quarta-feira, 28 de julho de 2010

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Nine out of ten movie stars make me cry, I'm alive

O Livro de Cabeceira


A Insustentável Leveza do Ser

Os Sonhadores, Dans Paris, Chanson D'amour


Rocco e seus Irmãos

Todo o Ciclo Antoine Doinel


Antes que Anoiteça, Carne Trêmula

Olhos Negros, 8 e Meio

O Acossado


Uma Rua Chamada Pecado

A Leste do Éden, Vidas Amargas, Juventude Transviada


sexta-feira, 9 de julho de 2010

Padre Vieira

Sou totalmente a favor da liberdade de imprensa, liberdade de expressão e etc, etc etc...Mas talvez, o conceito de liberdade carregue em si o germe dos mal entendidos que provoca à sua volta.Sob a bandeira da ética, jornalistas, na busca cotidiana pela audiência, consomem até a última gota do sangue das vítimas, das lagrimas dos familiares, do rosto dos criminosos!!!Aproveitando- se desse gozo perverso de nossa espécie, transformam em mercadoria barata nossa dor mais legítima. A morte da criança, o buraco do metrô, o acidente aéreo, o assassinato brutal da namorada do goleiro, com requintes de um Edgar Allan Poe, tudo explorado até a exaustão, imagens e discursos.
"Pensam que só os Tapuias se comem uns aos outros?Muito maior açougue é o de cá, muito mais se comem os brancos. Vedes vós todo aquele bulir, vedes todo aquele andar, vedes aquele concorrer às praças e cruzar as ruas; vedes aquele subir e descer as calçadas, vedes aquele entrar e sair sem quietação nem sossego? Pois tudo aquilo é andarem buscando os homens como hão-de comer e como se hão-de comer.»
Padre Viera
"Mas quem são eles, dizei-me, os saltimbancos, um pouco
mais efêmeros que nós mesmos, desde a infância por alguém torcidos
- por amor de vontade jamais saciada?"
(...)
Anjo, toma,, colhe a erva medicinal de flores singelas!
Modela um vaso e dá- lhe abrigo!Preserva entre as
alegrias não desabrochadas;celebra- a em
carinhosa urna, com uma inscrição florida e inspirada:
Subrisio saltat."

Fragmento da Quinta Elegia de Duino
Rilke
Acima Les Saltimbanques de Picasso
Abaixo o Castelo de Duino em Trieste,noAdriático, Itália.





quinta-feira, 8 de julho de 2010

Cartas a um jovem poeta - kalepa ta kala




kalepa ta kala

Li o livro "Cartas a um Jovem Poeta" há alguns anos atrás. Morava ainda em Belo Horizonte e tinha uma espécie de sede errática de conhecimento. Aos 18 anos de idade, enxergava à minha frente uma trajetória de vida milimétricamente planejada: medicina, depois psiquiatria, ou melhor, psicanálise freudiana otodoxa. Mas no fundo no fundo, desejava mesmo era ser filósofo ou poeta.
Escolhi o livro pelo título em uma banquinha na PUC de BH. Não sabia do que se tratava, nunca ouvira falar em Rilke, mas era jovem e, secretamente, considerava - me poeta. Devorei os conselhos do velho poeta ao jovem Franz Xaver Kappus.
O futuro não foi bem da maneira que eu planejara..... Hoje sou ator e músico. A psicanálise e a filosofia continuam sendo paixões ( não me tornei analista, mas fui, por 8 anos, paciente)e companheiras fiéis em meu cotidiano.
Recentemente comprei uma edição de bolso a dez reais em uma banca na av. Paulista. Uma leitura rápida, agradável e emocionante. De minha primeira leitura me sobravam ainda algumas lembranças, conselhos práticos acima de tudo: não escrever poemas de amor, ligar- se às experiências da infância e, principalmente, só escrever se for absolutamente indispensável escrever!
"Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever? Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranquila de sua noite:"Sou mesmo forçado a escrever?" Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples "sou", então construa a sua vida de acordo com esta necessidade. Sua vida, até em sua hora mais indiferente e anódina, deverá tornar-se o sinal e o testemunho de tal pressão."

Nessa segunda leitura, a relação que Rilke estabelece entre solidão e singularidade foi o ponto que mais me chamou a atenção.
Ele aconselha Kappus a cultivar a solidão, deixa- la crescer, conviver com ela, pois só assim seria possível lidar com a vida de uma maneira verdadeira, escapando aos lugares comuns, às soluções óbvias elaboradas pela coletividade, aos estereótipos.Só assim seria possível atingir a verdade poética. Mesmo no amor, que Rilke diz ser o que há de mais difícil na experiência humana, deve- se buscar fugir às soluções legitimadas pela coletividade. Só assim a relação a dois, seus mistérios e delícias, pode ser elaborada de maneira única, sem que se necessite recorrer às formulas pré- fabricas, aos lugares comuns do bom senso.Rilke chega a afirmar que os jovens não amam verdadeiramente e que mesmo quando contestam as regras estabelecidas, fazem -no, na maioria das vezes, reafirmando lugares comuns.
Para esse grande poeta, o exercício da solidão possibilita o florescimento do estilo.
Não é fácil. Trata- se do exercício da dor de estar só, para que se possa dizer a existência do ponto de vista dessa solidão. Essa tarefa hercúlea é, algumas vezes, insuportável. Mas como diz Platão, recorrendo à um ditado grego,Kalepa ta Kala, o belo é difícil.

terça-feira, 6 de julho de 2010

El romance de la luna, luna

A primeira foto é do Tarô de Salvador Dalí. Romancero Gitano!



Ciência, paciência e fé segundo Jacques Prévert

O mais belo e simples poema sobre o imponderável nos processos de criação artística. Sobre essa palavra em desuso: essência. Depois da ciência e do cuidado, a paciência e a fé!


PARA PINTAR O RETRATO DE UM PÁSSARO - Jacques Prévert


Primeiro pintar uma gaiola

com a porta aberta,

pintar depois

algo de lindo,

algo de simples,

algo de belo,

algo de útil

para o pássaro

depois dependurar a tela numa árvore

num jardim

num bosque

ou numa floresta

esconder-se atrás da árvore

sem nada dizer

sem se mexer...

Às vezes o pássaro chega logo

mas pode ser também que leve muitos anos

para se decidir.

Não perder a esperança,

esperar,

esperar se preciso durante anos.

A pressa ou a lentidão da chegada do pássaro

nada tendo a ver

com o sucesso do quadro.

Quando o pássaro chegar,

se chegar,

guardar o mais profundo silêncio

esperar que o pássaro entre na gaiola

e quando já estiver lá dentro

fechar lentamente a porta com o pincel

depois

apagar uma a uma todas as grades

tendo cuidado de não tocar numa única pena do pássaro

Fazer depois o desenho da árvore

escolhendo o mais belo galho

para o pássaro

pintar também a folhagem verde e a frescura do vento

a poeira do sol

e o barulho dos insetos pelo capim no calor do verão

e depois esperar que o pássaro queira cantar

Se o pássaro não cantar

mau sinal

sinal de que o quadro é ruim

mas se cantar, bom sinal,

sinal de que pode assiná-lo.

Então você arranca delicadamente

uma das penas do pássaro

e escreve seu nome num canto do quadro"




Sou louco pelos poemas de Jacques Prévert.São de uma delicadeza imensa!Foi ele o compositor de "Folhas Mortas", aqui interpretado por Yves Montand




Ele escreveu um livro lindo chamado "Paroles", na NET há muitos de seus poemas disponíveis.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Imagens e devaneios

Um pouquinho em frente à NET, fuçando aleatoriamente, reencontrei três imagens que há muito tempo eu não via. Vez por outra eu me lembro delas, nos momentos em que me deparo com situações em que a precária condição humana, frente à forças muito maiores, se afirma. Me lembro da primeira vez que as vi, e da emoção estranha que senti.

A primeira eu chamo de "O pas de deux da Praça da Paz". Um estudante chinês entra em frente a uma fila de tanques e barra sua passagem. A continuidade é impressionante: o tanque desvia e o rapaz desvia, o tanque desvia novamente e o rapaz mais uma vez o desafia.

A atualização de um mito, dança ritual entre David e Golias.

Essa cena aconteceu em 1989 e ficou conhecida como o Massacre da Praça da Paz Celestial.Estudantes protestavam contra a lei marcial imposta pelo Partido Comunista Chinês.

Tirado da Wikpédia:
"No dia 5 de Junho, um jovem solitário e desarmado invade a Praça da Paz Celestial e anonimamente faz parar uma fileira de tanques de guerra. O fotógrafo Jeff Widener, da Associated Press, registrou o momento e a imagem ganhou os principais jornais do mundo. O rapaz, que ficou conhecido como "o rebelde desconhecido" ou o homem dos tanques" foi eleito pela revista Time como uma das pessoas mais influentes do século XX. Sua identidade e seu paradeiro são desconhecidos até hoje."

A segunda imagem mostra Dercy Gonçalves aos 82 anos de idade, de peitos à mostra no desfile da Viradouro em 91. Tenho a impressão que alí, Dercy era a Grande Mãe de todos os brasileiros, assim como o parto de Macunaíma, feito no cinema por Grande Otelo, é ,para mim, nossa imagem fundadora . "Velha Dama indigna", nossa mãe, Dercy! Dercy afirma nosso jeito de ser, nosso jeito de atuar, a alegria desmedida e sem vergonha.Dercy afirma a vida!!!!

A outra imagem é de um quadro de Bruegel que mostra um cego conduzindo uma fila de cegos. O primeiro acaba de tropeçar, o que significa que tropeçarão todos os outros.

Me remete imediatamente a esse pensamento um pouco assustador de Pascal:
"Ante a cegueira e a miséria do homem, diante do universo mudo, do homem sem luz, abandonado a si mesmo e como que perdido nesse rincão do universo, sem consciência de quem o colocou aí, nem do que veio fazer, nem do que lhe acontecerá depois da morte, ante o homem incapaz de qualquer conhecimento, invade-me o terror e sinto-me como alguém que levassem, durante o sono, para uma ilha deserta, e espantosa, e aí despertasse ignorante de seu paradeiro e impossibilitado de evadir-se. Vejo outras pessoas ao meu lado, aparentemente iguais a mim; pergunto-lhes se se acham mais instruídas que eu, e eu me respondo palo negativo; no entanto, esses miseráveis extraviados se apegam aos prazeres que encontram em torno de si. Quanto a mim, não consigo afeiçoar-me a tais objetos e, considerando que no que vejo há mais aparência do que outra coisa, procuro descobrir se Deus não deixou algum sinal próprio.

● Só sei que o silencio eterno desse espaço infinito me apavora....

● Quantos reinos nos ignoram...!

Porque esse mundo finito e belo é tão difícil de se encontrar a felicidade?Por que são limitados meus conhecimentos, minha estatura, a duração de minha vida a cem anos e não a mil? Que motivos levaram a natureza a fazer-me assim, a escolher esse número em lugar de outro qualquer, desde que na infinidade dos números não há razões para tal preferência, nem nada que seja preferível a nada? "

Três imagens em meio a um caos de banalidades, das infinitas bobagens registradas e propagadas por aí.