segunda-feira, 17 de maio de 2010

Zizek! o direito a não gozar!

Estou completamente apaixonado por esse esloveno! Esse texto faz parte da revista FILOSOFIA para ensino de segundo grau!Acho tão fundamental essa linha de raciocínio!

"Zizek comenta que a sociedade hoje imputa tamanha sede de prazer aos indivíduos que o problema acaba por ser outro: a redescoberta do não prazer. "De um lado, há hoje um problema com o fracasso das ordens simbólicas - do 'Grande Outro', como diz Lacan. Isso conduz a um regime de interiorização das regras, e então, segundo Freud, a uma hipertrofia do Superego; e, por via de consequência, uma dilaceração ou um raquitismo da moral. Ora, como Lacan notou, o superego funciona como imperativo de gozo e também como interdito. A consequência paradoxal e trágica é uma corrida desenfreada ao gozo que acaba, evidentemente, na impossibilidade de gozar, pois o superego exige cada vez mais. A psicanálise tem aqui um papel essencial a desempenhar. Todos os outros discursos adquirem a forma de injunção para gozar, para buscar a felicidade. A psicanálise é um discurso que não impede de gozar, mas que permite justamente não gozar. Você pode gozar, mas não sob a forma de uma regra, de uma interiorização 'superegoica'. Por isso, o pensamento freudiano é mais atual do que nunca."

domingo, 2 de maio de 2010

Lorca - Chico - São João da Cruz - Lacan.....

Da Rosa
F.G.Lorca

A rosa
não procurava a aurora:
quase eterna em seu ramo,
procurava outra coisa.

A rosa
não buscava nem ciência nem sombra:
confins de carne e sonho,
buscava outra coisa.

A rosa
não procurava a rosa.
Imóvel lá no céu
procurava outra coisa.


Essa outra coisa! Coisa que não tem nome, nem nunca terá! Causa de um desejo, uma ânsia indefinida, um excesso e uma falta de algo ou alguém.Tema recorrente na obra de Lorca, presente já no Romancero Gitano no Romance da Pena Negra:

As picaretas dos galos
cavam buscando a aurora,
quando pelo monte obscuro baixa Soledad Montoya.
Cobre amarelo, sua carne,
trilha a cavalo e a sombra.
Bigornas esfumando seus peitos,
gemem canções redondas.
Soledad: por quem perguntas
sem companhia e a estas horas?

Pergunte por quem pergunte,
diga-me: a ti que importa?
Venho buscar o que busco,
minha alegria e minha pessoa.

Soledad de meus pesares,
cavalo que se desboca,
por fim encontra o mar
e travam as ondas.

Não me recordes o mar,
que a pena negra,
brota nas terras de azeitona
sob o rumor das folhas.
Soledad, que pena tens!
Que pena tão lastimável!
Choras sumo de limão
agre de espera e de boca.
Que pena tão grande!
Corro minha casa como uma louca,
minhas duas tranças
pelo solo da cozinha à alcova.
Que pena! Estou me pondo de azeviche, carne e roupa.
Ai minhas camisas de fio!
Ai meus músculos de papoula!
Soledad: lava teu corpo
com águas das calhandras,
e deixa teu coração em paz, Soledad Montoya.


Me lembro também de Chico Buarque e seu "O que será- à Flor da Pele", e dos poemas de São João da Cruz , Soledad Montoya poderia ser a Amante que desce o monte, desce as escadas, e caminha em direção ao mar, em meio à noite escura e que busca o descanso, que busca o Amado)!

1. Em uma noite escura,
De amor em vivas ânsias inflamada,
Oh, ditosa ventura!
Saí sem ser notada,
Já minha casa estando sossegada.

2. Na escuridão, segura,
Pela secreta escada, disfarçada,
Oh! ditosa ventura!
Na escuridão, velada,
Já minha casa estando sossegada.

3. Em noite tão ditosa,
E num segredo em que ninguém me via,
Nem eu olhava coisa,
Sem outra luz nem guia
Além da que no coração me ardia.

4. Essa luz me guiava,
Com mais clareza que a do meio-dia
Aonde me esperava
Quem eu bem conhecia,
Em sítio onde ninguém aparecia.

5. Oh! noite que me guiaste,
Oh! noite mais amável que a alvorada!
Oh! noite que juntaste Amado com amada,
Amada já no Amado transformada!

6. Em meu peito florido
Que, inteiro, para ele só guardava,
Quedou-se ali adormecido,
E eu, terna, o regalava,
E dos cedros o leque o refrescava.

7. Da ameia a brisa amena,
Quando eu os seus cabelos afagava,
Com sua mão serena Em meu colo soprava,
E meus sentidos todos transportava.

8. Esquecida, quedei-me,
O rosto reclinado sobre o Amado;
Tudo cessou.
Deixei-me,
Largando meu cuidado
Por entre as açucenas olvidado.
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Chico Buarque - 1976

O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita

O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os unguentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite

O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os tremores que vêm agitar
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os suores me vêm encharcar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo