domingo, 28 de agosto de 2011

Pequena fábula de um amor de alhures e de além.

Por Rodrigo Mercadante
Para um amigo


Procurava tanto o amor...
Era um sumidouro de espelho,
Era alhures,
Era alto,
Era além.
Procurava- o tanto em seu reflexo nas águas,
Que sobre elas caminhava, sem se molhar.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A Casa 2 por Rodrigo Mercadante

Às vésperas de uma demolição

Ela era eu mais do que ela mesma
Ela era minha mais do que de todos os outros.
Mais infância que ruína
Mais rima, mais rima, mais rima

Nunca se riu de mim,
Mas me assombrava sob os vãos da escada.
Há um chapisco de cada medo meu
Sob a tinta da parede
E mesmo a parede,
É mais rosto que pedra,
Mais sangue, mais cerne!

Marcados na aresta de um canto
Ums riscos rabiscos uns sobre os outros
medem minha história em datas e polegadas:
"Um dia ele espicha"!!
Toneladas, toneladas de pensamentos
tolos, tortos, cheios de musgo, gesso, madeira podre
Se acumularam em hipóteses sob os ladrilhos vermelhos da sala.

E histórias,
Tantas histórias compondo seus vitrais...
A louca escondida 7 dias sob uma escada esquecida,
Um trapézio no centro da sala,
A piscina burguesa a transbordar desejos,
A goiabera onde moravam os primos,
O sofá de onde o mundo era visto ao avesso,
Uma torneira, um galo, uma oficina
Um sótão onde ninguém chegava,
Uma adega onde viviam
Todos os espíritos que animam sons, telhas, treliças,
E que ainda me amedrontam nas horas mortas da madrugada.

Quais são as máquinas de esmagar memórias:
A barbárie, o capital, o futuro?
Sobre quais mortes se erguem os novos arranhacéus?
Exigem sangue e saliva como registro de escritura?
Haverá de sobreviver sob o alicerce
Das novas famílias uma gota de minhas hesitações e três perguntas sem resposta.

Antes dos tratores desmolirem esses versos,
gostaria de gritar a meus iguais que sob o chão onde pisamos por tantos anos
Havia água a se infiltar na cerâmica.
E também baratas verdadeiras habitando o subsolo de nossas ilusões.