quarta-feira, 20 de julho de 2011

Para a ladeira com vocação para metáfora e para a invisibilidade.

A Ladeira da memória

Desci aos trupicões
a Ladeira da memória.
Desci numa síncopa desesperada
Fui dar no meio fio
de uma rua insuspeitada,
Sob uma janela aberta
De uma casa amarelada.
Apareci enrugado e terno
Numa foto roubada
da parede de um botequim.


Desci desembestado a Ladeira,
fui dar numa metáfora
abandonada em uma escada,
Lá engraxava um sapato
o menino com fome,
Aquele mesmo, refém de discursos e esperanças.
Enquanto um outro, saciado, se lembrava
Da estrada a percorrer,
Dos perigos, das delícias,
Do lugar a se chegar.
(Há sempre um lugar a chegar)
A chegar
A chegar

(Um gato esfarrapado
De uma insistente certeza
Se lembrava
Se lembrava
Não se sabe do que,
E Descansava
Descansava)


Rolei por alguns instantes
Sobre as Memórias do concreto
Sob o concreto, a história
Sobre a história, devaneios
Sob os sonhos, as botas
Que marcham e desbravam,
E por debaixo, a terra,
(Ah, insistente terra!)
Sempre a terra a me lembrar
Me lembrar
Me lembrar
Me lembrar

Desci incógnito seus degraus,
Me apoiando num poema,
Escorregando em seus descasos,
Com sua feiura, embevecido.
Com meus óculos modernistas
Perdi som, rítmo e Rumo,
perdi a pista.
Mas escapei de ser roubado
Ainda é minha essa carteira
com 25 mirréis e seu retrato
Ainda é minha a minha dor.










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