sexta-feira, 2 de julho de 2010

Imagens e devaneios

Um pouquinho em frente à NET, fuçando aleatoriamente, reencontrei três imagens que há muito tempo eu não via. Vez por outra eu me lembro delas, nos momentos em que me deparo com situações em que a precária condição humana, frente à forças muito maiores, se afirma. Me lembro da primeira vez que as vi, e da emoção estranha que senti.

A primeira eu chamo de "O pas de deux da Praça da Paz". Um estudante chinês entra em frente a uma fila de tanques e barra sua passagem. A continuidade é impressionante: o tanque desvia e o rapaz desvia, o tanque desvia novamente e o rapaz mais uma vez o desafia.

A atualização de um mito, dança ritual entre David e Golias.

Essa cena aconteceu em 1989 e ficou conhecida como o Massacre da Praça da Paz Celestial.Estudantes protestavam contra a lei marcial imposta pelo Partido Comunista Chinês.

Tirado da Wikpédia:
"No dia 5 de Junho, um jovem solitário e desarmado invade a Praça da Paz Celestial e anonimamente faz parar uma fileira de tanques de guerra. O fotógrafo Jeff Widener, da Associated Press, registrou o momento e a imagem ganhou os principais jornais do mundo. O rapaz, que ficou conhecido como "o rebelde desconhecido" ou o homem dos tanques" foi eleito pela revista Time como uma das pessoas mais influentes do século XX. Sua identidade e seu paradeiro são desconhecidos até hoje."

A segunda imagem mostra Dercy Gonçalves aos 82 anos de idade, de peitos à mostra no desfile da Viradouro em 91. Tenho a impressão que alí, Dercy era a Grande Mãe de todos os brasileiros, assim como o parto de Macunaíma, feito no cinema por Grande Otelo, é ,para mim, nossa imagem fundadora . "Velha Dama indigna", nossa mãe, Dercy! Dercy afirma nosso jeito de ser, nosso jeito de atuar, a alegria desmedida e sem vergonha.Dercy afirma a vida!!!!

A outra imagem é de um quadro de Bruegel que mostra um cego conduzindo uma fila de cegos. O primeiro acaba de tropeçar, o que significa que tropeçarão todos os outros.

Me remete imediatamente a esse pensamento um pouco assustador de Pascal:
"Ante a cegueira e a miséria do homem, diante do universo mudo, do homem sem luz, abandonado a si mesmo e como que perdido nesse rincão do universo, sem consciência de quem o colocou aí, nem do que veio fazer, nem do que lhe acontecerá depois da morte, ante o homem incapaz de qualquer conhecimento, invade-me o terror e sinto-me como alguém que levassem, durante o sono, para uma ilha deserta, e espantosa, e aí despertasse ignorante de seu paradeiro e impossibilitado de evadir-se. Vejo outras pessoas ao meu lado, aparentemente iguais a mim; pergunto-lhes se se acham mais instruídas que eu, e eu me respondo palo negativo; no entanto, esses miseráveis extraviados se apegam aos prazeres que encontram em torno de si. Quanto a mim, não consigo afeiçoar-me a tais objetos e, considerando que no que vejo há mais aparência do que outra coisa, procuro descobrir se Deus não deixou algum sinal próprio.

● Só sei que o silencio eterno desse espaço infinito me apavora....

● Quantos reinos nos ignoram...!

Porque esse mundo finito e belo é tão difícil de se encontrar a felicidade?Por que são limitados meus conhecimentos, minha estatura, a duração de minha vida a cem anos e não a mil? Que motivos levaram a natureza a fazer-me assim, a escolher esse número em lugar de outro qualquer, desde que na infinidade dos números não há razões para tal preferência, nem nada que seja preferível a nada? "

Três imagens em meio a um caos de banalidades, das infinitas bobagens registradas e propagadas por aí.

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