O mais belo e simples poema sobre o imponderável nos processos de criação artística. Sobre essa palavra em desuso: essência. Depois da ciência e do cuidado, a paciência e a fé!
PARA PINTAR O RETRATO DE UM PÁSSARO - Jacques Prévert
Primeiro pintar uma gaiola
com a porta aberta,
pintar depois
algo de lindo,
algo de simples,
algo de belo,
algo de útil
para o pássaro
depois dependurar a tela numa árvore
num jardim
num bosque
ou numa floresta
esconder-se atrás da árvore
sem nada dizer
sem se mexer...
Às vezes o pássaro chega logo
mas pode ser também que leve muitos anos
para se decidir.
Não perder a esperança,
esperar,
esperar se preciso durante anos.
A pressa ou a lentidão da chegada do pássaro
nada tendo a ver
com o sucesso do quadro.
Quando o pássaro chegar,
se chegar,
guardar o mais profundo silêncio
esperar que o pássaro entre na gaiola
e quando já estiver lá dentro
fechar lentamente a porta com o pincel
depois
apagar uma a uma todas as grades
tendo cuidado de não tocar numa única pena do pássaro
Fazer depois o desenho da árvore
escolhendo o mais belo galho
para o pássaro
pintar também a folhagem verde e a frescura do vento
a poeira do sol
e o barulho dos insetos pelo capim no calor do verão
e depois esperar que o pássaro queira cantar
Se o pássaro não cantar
mau sinal
sinal de que o quadro é ruim
mas se cantar, bom sinal,
sinal de que pode assiná-lo.
Então você arranca delicadamente
uma das penas do pássaro
e escreve seu nome num canto do quadro"
Sou louco pelos poemas de Jacques Prévert.São de uma delicadeza imensa!Foi ele o compositor de "Folhas Mortas", aqui interpretado por Yves Montand
Ele escreveu um livro lindo chamado "Paroles", na NET há muitos de seus poemas disponíveis.
terça-feira, 6 de julho de 2010
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Rodrigo, que mente privilegiada a sua! Senti um extremo bom gosto na seleção dos textos. Parabéns. Quando eu quiser uma boa leitura, de alta qualidade, é pra cá que eu virei!!!
ResponderExcluirPegue a pena do pássaro e assine o blog inteiro...rs