segunda-feira, 7 de junho de 2010

Cariri - Eu meio místico

Às vezes, acho que crer em Deus é mais fácil em determinados lugares, em determinadas paisagens. Esse Deus que conforta, se é que ele existe, necessita de horizontes para se revelar. Precisa do infinitamente grande e do infinitamente pequeno, das alvoradas e do Pôr-do-Sol. Ah, como Deus é impossível nas metrópoles! Sem horizontes, sem espaços livres, ele se perde atrás dos prédios, dos relógios, dos vidros escurecidos, se confunde com os anúncios gigantescos e coloridos. Da janela de um ônibus lotado às 6 da tarde, fica difícil entrevê-lo, e nos 20 minutos de almoço, ele nem mesmo tem tempo de se esboçar em uma de suas infinitas formas! Uso uma frase de Camille Claudel para falar das cidades:"há sempre alguma coisa de ausente que nos atormenta". A cidade só pode ver Deus em sua forma mais terrível, nas tempestades e catástrofes, na natureza em fúria afirmando nossa pequenez e revelando o ridículo do orgulho humano.




Agora estou em São Paulo. Faz poucas horas, estava aos pés da estátua de Padre Cícero, em Juazeiro do Norte. Já estive por 4 vezes me apresentando na região do Cariri e foi paixão à primeira vista! É como se eu entendesse tudo que move a vida por lá. Tenho amigos, conheço as ruas e os caminhos, sei negociar preço com os taxistas, dou informações na rua e meu sotaque se modifica depois de algumas horas por lá. Até promessa faço, depois me esqueço do que prometi, mas pago de outra forma.
Do auto do Horto, onde está plantada a aparentemente horrível estátua, pode- se ver Juazeiro, Crato e Barbalha e a serra do Araripe que parece ter sido desenhada no horizonte por um daqueles arquitetos modernistas.

O que faz a beleza do horto são justamente as manifestações de fé, as milhares e milhares de fitas amarradas à imagem do padre, os chumaços de cabelo, as velhas beatas e aquela estética romeira, de santinhos, escapulários e cópias baratas do coração de Jesus com luzinhas coloridas.


Juazeiro do Norte, fundada por romeiros e pelo padre Cícero é uma cidade comercial. Na subida da serra que leva ao horto existe um conjunto de casinhas características da região, coloridas, com as portas sempre abertas, com altares na parede da frente e com gente sentada na porta. Todos fazem questão de nos cumprimentar em sinal de cordialidade. Existe uma doçura irresistível no ar. A cidade respira uma espécie de fé jocosa, de crença malandra, de permanente penitência em festa.
O Crato é uma cidade rica em manifestações culturais.Seus moradores se orgulham de nela terem nascido, chamam - na "Cratinho de açucar", "meu amado Crato"e expressam com frequência, uma espécie de divertido menosprezo histórico pelo Juazeiro.
Barbalha é uma preciosidade. Cidadezinha antiga onde ainda é possível assistir aos ritos dos penitentes.


A foto acima é da casa do Mestre Noza, uma espécie de cooperativa de artesãos, um ponto de cultura onde vários artistas se reúnem, trabalham o dia todo e vendem suas obras. Parece que estamos entrando num universo paralelo. Milhares de figuras de madeira, formas primitivas, bonecos, imagens, todas misturadas numa festa de cores e formas "caoticamente organizadas."

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